Um texto da MARTHA MEDEIROS

Sempre fui fã dela. Tive o previlegio de trabalhar na mesma agência que ela, em outro setor. Coloco os texto que ela escreve no caderno DONNA do jornal ZERO HORA de PORTO ALEGRE, RS.

O ocasional e o essencial - 29/07/2007

Uma das razões que torna o escritor Ian McEwan um dos grandes nomes da literatura contemporânea é que ele escreve tão bem que consegue nos capturar para dentro de seus livros. Você não lê: você vive aquilo que está escrito. No seu mais recente lançamento, Na Praia, os personagens Edward e Florence, recém casados, travam uma conversa que definirá o futuro de cada um. É um diálogo difícil, delicado, forte, emocionante, verdadeiro, triste e nenhum destes adjetivos vêm em nosso socorro para ajudar a compreender a cena, não é preciso: a gente está ali com eles, ouvindo tudo, sofrendo junto. Enquanto eles conversavam, escutei não apenas suas vozes, mas o barulho das ondas, a interferência da brisa e a lenta batida do coração de cada um. Quase paramos todos de respirar - o casal e eu.

A questão dolorosa do livro é uma pergunta para a qual dificilmente encontramos resposta: a pessoa que você amou e perdeu no passado era essencial na sua vida?

Uns tiveram muitos amores entre os 16 e os 80 anos, outros tiveram poucos, mas todos nós possuímos um passado, não há quem tenha vivido com o coração desocupado. Os dias que correm, hoje, indicam que nossa vida amorosa irá se intensificar ainda mais, uma vez que as possibilidades de encontro se multiplicam (a Internet fazendo sua parte), os preconceitos diminuem (aumentando a oferta de "composições") e a necessidade de desejar e ser desejado tem se imposto à necessidade de casar e ter filhos. Na prática, estas mudanças já vêm acontecendo. Há diversas formas de se relacionar, e se o número de adeptos de formas menos tradicionais ainda não é volumoso, o respeito por todas elas está, ao menos, quase sedimentado.

Este entre-e-sai de homens e mulheres na vida uns dos outros dinamiza as relações, incrementa biografias, dá uma sensação de estarmos aproveitando bem o nosso tempo. E o amor não está excluído da festa, pode marcar presença forte em quaisquer dos novos padrões de comportamento. Mas este barulho todo não oculta nosso questionamento mais secreto: haverá alguém que, entre todos os que cruzaram nosso caminho, poderia ter nos transformado, nos acrescido, nos desviado desta eterna experimentação e justificado nossa existência de uma forma mais intensa? Terá esta pessoa cruzado por nós e a perdemos por causa de uma frase mal colocada, por uma palavra dita com agressividade, por uma precipitação, por um medo ou um equívoco?

Não é uma resposta que chegue cedo para todos. Sorte de quem já a tem. Em Na Praia, Ian McEwan não oferece um final infeliz a seus personagens, mas não os priva de uma dúvida comum a todos: que destino teríamos se um amor vivido errado tivesse sido vivido certo. Como assumir este amor sem sofrer as influências da época, da sociedade e da nossa própria imaturidade. Como valorizar o que se tem no momento em que se tem, e não depois. Como livrar-se do fantasma do "se eu tivesse dito, se eu tivesse feito, se eu...".

O maravilhoso mundo das relações amorosas progride, se reinventa, se liberta das convenções, se movimenta para um lado e para o outro, mas seguimos mantendo a íntima esperança de que, entre todos os "muitos" que nos fizeram felizes, possamos reconhecer aquele "um" que calaria todas as nossas perguntas.

Martha Medeiros [martha.medeiros@zerohora.com.br]

Outra Pessoa - Martha Medeiros/ZH Domingo


Relações amorosas seriam menos traumatizantes se as pessoas soubessem que estão vivenciando um encontro entre adultos, e não um projeto de mútua adoção.

Sou fã da Gloria Kalil, uma mulher elegante em sua despretensiosa simplicidade e que consegue ser feminina e categórica ao mesmo tempo - combinação rara. Pois é ela que dá graça e leveza ao quadro Etiqueta Urbana, que apresenta junto com Renata Ceribelli no Fantástico, aos domingos. No último programa, o assunto era etiqueta nas relações amorosas: o que a intimidade permite e o que não permite. Todos deveriam nascer sabendo, mas há quem se atrapalhe, normal. O que é difícil de acreditar é que ainda exista, como o programa mostrou, mulheres que atendam o celular do parceiro para checar quem está ligando pra ele. Uma moça explicou que faz isso porque se sente no direito de saber quem está atrás do seu marido, e justificou: "se fosse outra pessoa, eu não faria". No que Gloria Kalil, abismada, alertou: "mas ele é outra pessoa".

Extra, extra! Notícia quente para quem está chegando agora da lua: nossos namorados, maridos e esposas são outras pessoas. Eles dizem que nos amam, e tudo indica que é verdade, mas isso não significa que o amor possua o dom de fundir o casal. Este ser com quem você divide o teto e as contas continua tendo amigos próprios, clientes próprios, vida própria. Você não vai acreditar: até pensamentos próprios! Pois é, criatura. Seu grande amor nasceu de uma família que não tem nada a ver com a sua, teve uma infância muito diferente da que você teve e viveu muito bem sem sonhar que você iria atravessar o destino dele - claro que, se ele for romântico, vai negar esta última parte e dizer que simplesmente não existiu antes de você aparecer. Como é que você tem coragem de xeretar a privacidade de um sujeito tão sedutor?

Celulares tocam numa tarde de domingo e isso não quer dizer que do outro lado da linha esteja um ricardão ou uma manteúda. Mas pode ser que esteja também, quem aqui tem bola de cristal? Só que não é esta a questão. O assunto em pauta é civilidade, lembra? Tem que ter! Educação segue sendo necessário até pra quem está casado há 82 anos, sem contar os sete de namoro. Se não houver gentileza e respeito, vira barraco. Baixaria. Fiasco. Portanto, pare de achar que está sendo traído e de ficar procurando evidências. Siga o conselho do sábio psiquiatra suíço Adolph Meyer: não coce onde não está coçando.

As relações amorosas seriam muito menos traumatizantes se os envolvidos tivessem a consciência de que estão vivenciando um excitante encontro entre adultos, e não um projeto de mútua adoção. Ninguém é criança, ninguém agüenta monitoramento constante. Morando em casas separadas ou na mesma casa, ele é uma pessoa, você é outra, e é aconselhável que cada um respire com o próprio nariz, pra não acabar em asfixia.

BRINQUEDOS E LEMBRANÇAS


Como eu podeiria mostrar que ainda sinto a falta de vocês?

Passo em frente de lojas e lembro que vocês estão longe e não podem ver o que vejo.
Não posso adquiri tudo que gostaria de comprar para vocês, pois vocês estão longe.
Inevitavelmente me lembro da estupidez da qual tive que evitar conviver.

Mandar para Portugal é mais caro que comprar a "lembrancinha".
Tenho que seguir lembrando

FAÇAMOS DE CONTA ...

Façamos de conta que somos uma casa, modulável e extensível de acordo com a nossa auto-estima e associações ao longo da vida.

De acordo com a necessidade, alguns cômodos são mais freqüentados e vistos que outros. Por vezes, alguns não são visitados em decorrência do tamanho da casa, da sua utilidade e principalmente em virtude dos afazeres que os outros cômodos requerem.

Em virtude desta atitude, um cômodo pode ser esquecido, tendo a porta fechada ou mesmo pode ser retirado da estrutura da casa (remodelando a planta, ou simplesmente construir uma parede à porta e as janelas – se houver), pode escondê-lo atrás de um quadro ou de um armário ou roupeiro, se fosse um português.

Pensando desta forma, o “cômodo” emocional pode, dependendo do grau de esquecimento ser deixado de lado ou de ser revisitado. Este esquecer trás como decorrência alguns pontos que com o tempo pode trazer as suas conseqüências. A porta perde a função de abrir, passar e fechar devido a dilatação da madeira, da ferrugem nas dobradiças, corrosão da fechadura, da maçaneta ou do trinco. Isto tudo ter acesso novamente ao cômodo. Essas dificuldades são enormemente acrescidas com o que se pode encontrar lá dentro. Diante das prováveis lembranças ou das possíveis recordações ficamos detidos à porta. Lá dentro as coisas podem estar em dois estados: conservados ou em decomposição. Junte-se a isto o meio onde elas ficaram que pode ser rarefeito, cheio de pó, de mofo e sem luz.

Seja você mesmo(a) ou outra pessoa que queira “habitar” esse cômodo, sempre terá que enfrentá-lo. Para você que conservou as lembranças e recordações, tirando o pó, arejando o quarto, colocando óleo nas juntas metálicas, a decoração retro lhe proporcionará um “flash-back” sempre que entrar neste cômodo, levando-o(a) a pontos de dissonância entre o que poderia fazer, o que fez e o que deixou de fazer e na pessoa do “inquilino” estará, o positivo e o negativo do seu passado. Há possibilidade de tudo ficar intocável, imutável e preservado com a preocupação de que nada mude de lugar. Em decorrência desta “disputa” é provável que opte por simplesmente manter o cômodo como um deposito onde guarda coisas dispensadas (ou seria coisas não mais pensadas?). Há também a sua necessidade física de usá-lo dando outra “serventia” para o cômodo, então, simplesmente junta todo o “lixo”, coloca em caixas e esconde algures na casa ou se livra do passado jogando-o fora, à rua.

Contudo, poderá pintá-lo, redecorá-lo até reconstruí-lo, mas não terá apagado a utilidade que nele havia. Mesmo que não diga “que aqui havia...” você verá nele algo que não quer mais ver. Essa casa sempre existirá, da melhor ou da pior forma. Habitada por muitos que vieram depois ou exclusivamente por você. A porta deste cômodo pode estar fechada do jeito que você quiser ou puder, porém não deves erguer uma parede cerceadora à porta de entrada da sua casa e sim deves construir pontes de ligação entre o seu exterior e seu interior. Há outros cômodos que necessitam da atenção que você e quem sabe outra pessoa possam dar para harmonizar a casa como um todo. Por isto, viva a casa como se fosse um espaço único e amplo.

O COPO D’ÁGUA

- Foi a gota d’água!

Não interessa a medida, pode ser um copo de 100 ml ou 1 litro, ele vai encher. Não interessa se a primeira gota caiu ontem ou foi à uma semana ou cinco, dez ou vinte anos, ele vai encher e vai depender da freqüência com que a gota for cair. E não há como estancar o gotejar das animosidades. Sim, dentro do copo só existe o que há de ruim no relacionamento. Dizem que quase sempre a gota “boa” cai fora do copo. Depois que lá dentro estar não tem como tirar a gota que caiu.
Por que alguém guardaria, valorizando algo que não serve para nada? E ainda tem gente que monitora a cadência, o tempo de queda e às vezes o volume de cada gota. Qual será a importância que isto tem na sua vida? Qual o interesse que pode existir em reter as piores coisas dos outros?
Já pensei em maneiras de dissipar essa inevitável tempestade que irá se formar quando ele estiver cheio. Imaginei quebrar o copo, trocar o copo por outro vazio e elevar a temperatura ambiente de forma a aumentar a evaporação da água retida no copo – tudo isto sem que o outro(a) se aperceba o que desencadearia a abertura das comportas.
Tudo em vão.
Sei que os donos dos copos guardam-nos como tesouros e o precioso líquido (se tiver passado a marca mediana) vira ouro líquido. Quanto mais discussões houver entorno do “copo meio vazio meio cheio” maior é o valor do líquido. Vai entender essas coisas de mercado de especulações.
Voltamos ao copo. Como disse, já passei tempos pensando em como parar as “fatídicas gotas da discórdia”. Uma coisa que não devemos esquecer que ele enche sem sabermos que o estamos enchendo. Acredita mesmo que o outro iria deixar você tapar o “bico da gota” e forçá-lo a ter que dar o braço a torcer que aquilo não vale nada? Isto é que seria bom! Mas não é tão fácil assim. Lembre-se que o teu copo está no campo do inimigo o que já acarreta uma dificuldade extra e demonstra como será a “guerra”. Para complicar um pouco mais, qualquer movimento que você fizer em direção ao copo cairá uma gota. Não quero pensar que se, você não fizer nada a gota cairá na mesma e se, estiver nesta situação, aconselho a pegar o copo que esta com você e vá até lá e enche o mais rápido possível o copo do outro(a) e parta para outra vida.
Voltemos ao caso anterior onde ainda há respeito e honestidade. Hipoteticamente temos que parar com o gotejar, certo? Errado. Temos que acabar com o líquido que cai em gotas. O que importa é saber que líquido é esse e onde se esconde e como é que ele consegue chegar até o outro lado se ele sai de dentro de mim?
Estou estudando humildemente a intricada rede de canais e canos por onde correm as emoções para ver se descubro algum reservatório deste líquido, que esteja escondido por medo ou por falta de auto-estima em algum lugar desconhecido.
Espero descobrir a tempo de estancar o líquido, pois no copo já deve ter caído a última gota.

SÓ PARA MARCAR O INICIO


Cá estou a colocar a máquina a funcionar.

A FAZEDORA DE NUVENS!

Sou um fazedor de nuvens, pois são volateis e imateriais as coisas que faço perante um mundo materialista.

Do alto da minha simplicidade vejo o mundo EGOCRÁTICO onde os meus filhos crescem.

Escrevo,
Leio,
Guardo.

Para mais tarde "usar em minha defesa".

FOI UM PRAZER TER ESTADO COM VOCES.
Urubu Albino.

GOSTO DE ...

  • Caminhar com o intuito de esquecer
  • Cozinhar para satisfazer, eu e outros
  • Filmes por que me isolam da realidade
  • Fotografar pois me ajudam a lembrar da vida
  • Livros por que ensinam a valorizar o momento