Sobreviver não pode ser o único objetivo na vida

O importante é qual vida levamos, se ela é digna ou não, se é moralmente correta ou não.

http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/sobreviver-nao-pode-ser-o-unico-objetivo-na-vida/

A IMPORTÂNCIA DE UMA CARTA

Depois de ler o texto do Carpinejar - A IMPORTÂNCIA DE UMA CARTA, que me apropriei do título - lembrei-me das cartas que remetia.

Para você em especial: você se lembra da ultima carta que você enviou a um amigo(a)? Para outros em geral: será que alguma vez recebeu uma carta em casa sem ser correspondência comercial, panfleto ou outro aviso impresso aos milhares? Estranharia se recebesse uma carta? Quem sabe não deixaria para ler depois, pois acabou de receber um e-mail, uma mms ou uma sms no celular?


Ultimamente, é cada vez mais raro receber cartas, cartão postal e ou mesmo recados escritos à mão – tal procedimento era corriqueiro quando a vida não era tão digital como a de hoje.

Cartas são de uma época que quem escrevia tinham tempo para escrever, cultivar amizades e amores, apesar dos afazeres diários. Não quero dizer com isso que hoje não há amizades ou amores por “correspondência-eletrônica”. É que hoje falta ideia mesmo! Mas o pior é saber que a maioria não “sabe” escrever além dos truncamentos eletrônicos e das correções automáticas de software. Diferentemente de “ontem” a preocupação hoje é de viver só o presente com olhos postos na neblina que cobre o futuro. Esperar uma semana ou até um mês, dependendo do lugar, por uma resposta de uma mensagem é quase tratado como real descaso.

Escrever uma carta trazia em si um desapego ao mundo a sua volta. Um recolhimento em busca de fatos importantes a serem repassados. Uma narrativa sobre o que se vive, passou ou sonha realizar. Escrever uma carta era quase um ato de introspecção, uma reflexão “cursiva”. Às vezes essa carta era escrita durante dias em pequenos papeis, em blocos, anotados no dia a dia e guardados para que, num determinado momento, iluminado pela saudade e pela satisfação de “estar conversando” com aquela pessoa, iria escrever a carta. 

Era pura entrega. Para o bem da verdade, a carta é um produto artesanal. Você produz tudo, ou quase tudo. Com a matéria prima certa e uma dose de criatividade você transforma atenção, carinho e afeto em uma carta. Todo esse trabalho manufaturado para demostrar a pessoa o quanto ela é importante. É emocionante, mesmo que seja um pequeno bilhete. É uma experiência única. E escrever tinha um certo ritual.

Pensar no tempo entre o envio e o recebimento da resposta pode parecer meio bizarro, mas existia um intervalo pré-concebido que descobríamos depois das primeiras cartas: eram tantos dias para chegar ao destino, o prazo para leitura, o tempo para escrever a resposta e o período da remessa. Claro que isto era muito por estimativa, mas existia um tempo calculado.

Quem escrevia sabia que nunca se devia postar na sexta, pois ela iria seguir somente na segunda. Dois preciosos dias que podiam ser aproveitados a escrever. 

Onde escrever? Bloco, folhas avulsas ou em grandes formatos (pedaços de rolo de papel de embrulho para presentes cuja estampa escolhida também levaria uma mensagem intencional). Seja qual for o papel não podia haver rasuras, dúvidas e enganos. A escrita era única e bela. Você escolhia a caneta ou lápis ou “a BIC Rollon” ou talvez giz de cera ou quem sabe, carvão. Houve um tempo que as canetas esferográficas tinham perfume na sua combinação. Cada cor com a seu perfume.

Talvez o detalhe mais importante depois da mensagem era a dobradura das folhas. Quase um origami. Certamente você nunca deva ter notado como uma carta estava dobrada. Afinal o mais comum é a de três partes com duas dobras. Para cada carta, cada intensão a passar haveria uma dobradura. Escrevia-se uma mensagem, uma frase no espaço das dobras que permitia se ler enquanto ia desdobrando-a. Cada dobradura era um sonho a parte.

Talvez você nunca pensou na capacidade que a inclinação de uma folha tem no “desenho da letra”? Todas  ficam lindas, todas elas no mesmo sentido, com o mesmo tamanho e com o mesmo espaçamento. Eu tinha a preocupação de não usar jornal como apoio da folha que escrevia, pois a tinta ficava marcada do outro lado da folha as letras espelhadas. Se o assunto era extenso iria escrever frente-e-verso, caso contrário no verso da folha estaria os desenhos, frases, fotos coladas ou aquela flor ou uma folha de árvore. Às vezes, as cartas eram simples respostas das cartas anteriores intercaladas com algumas perguntas curiosas!

As fotos eram um item a parte. Não poderia ser muitas, pois aumentava o volume e o peso da correspondência e consequentemente o preço. Tais fotos levavam intimidade e dava veracidade à carta e fortalecia a amizade. As fotos quase sempre iam com dedicatórias no verso. Às vezes, eram fotos suas, das férias, de um aniversário ou cartões-postais de sua cidade. Quase sempre com longas descrições no verso de locais e de pessoas. Imagine a sorte que era ter amigos que moravam na Europa ou Estados Unidos? Recebendo “postcard” de lugares fantásticos?

A preocupação de escolher o envelope, a cor, se teria desenho ou decoração se juntava ao fato que eles deveriam ser RPC: recomendado pelo correio, pois não servia qualquer envelope. Dependendo do tamanho da carta e do envelope era possível fazer o envelope em casa desde que as medidas fossem padrão.

Depois de tudo pronto, a mensagem escrita ou como diriam os mais antigos: a missiva. Realizada a dobradura, tendo subscritado o envelope, há que ir ao Correio. Selar, enviar e constatar a pior parte de todo esse processo: esperar a resposta.
- Poderia me dizer quando essa carta chega ao destino?
Era inevitável essa pergunta. Contava-se nos dedos os dias de viagem, a distribuição e a entrega na casa.

Como não vibrar com a expectativa de receber e ler uma carta de alguém que dedicou um tempo para te escrever por que você é especial para essa pessoa e ela deseja demonstrar afeto, carinho, atenção e fazer a diferença pra você valorizando tua amizade, acariciando teu coração, alegrando tua vida e satisfazendo teu ego.

O grande tesouro de certas cartas era sensação mágica de tocar em algo que alguém escreveu especialmente para você. Antes de abrir esse baú de riqueza sentimental primeiro detínhamos em analises do envelope, selos e de como o envelope foi subscrito. Nada estava ali ao acaso. Sempre havia uma sutileza que não podia passar despercebida. 

Você está vendo a letra da pessoa, o papel onde ela manuseou. A carta é tátil, resgata a proximidade e o contato físico que foram perdidos com essa comunicação digital. Em suma, representa a pessoa que enviou a carta. É como se a pessoa estivesse junto de você conversando, contando fatos. Lembro do ato de cheirar o envelope. Era fantástico saber que aquele perfume foi colocado ali para você senti-lo. Era a assinatura olfativa. Aquele era o perfume dela. Depois de todo o ritual de abri-la sem rasgar, ela era lida, relida, lida novamente. E esse vínculo entre escritor e leitor, tornava a amizade mais duradoura e quase perene. As cartas são guardadas eternamente, ad eternum. 

As cartas são simples “ensaios existencialistas” talvez por isto haja tamanha carga de sentimentos nas entrelinhas. São objetos pessoais e por isto escrito á mão e carregados de significados. Raiva, ódio (com letras grandes, garranchos e escritos com forças). Amor, paixão (com flores, desenhos e odor). Tristeza, saudade (com folhas molhadas de lágrimas) e outros que a sua imaginação pode alcançar.

As cartas contem mensagens subliminares, desejos escondidos, informações primordiais e estava de cheia de códigos. Elas nem sempre se enquadravam no romântico ou como diziam antigamente como “cartas de amor”. Assim como hoje nem toda mensagem, ‘torpedo’ ou e-mail que esteja carregado de sentimentos pode ser considerado um “relacionamento sério”. Há inúmeros livros cujo titulo caracterizam bem isto: “cartas de – para” ou simplesmente “as cartas de fulano(a)”.

Mas tudo isto é passado. Hoje não há mais tempo para esses arcadismos emocionais. A sociedade nos fez ser efêmeros e rápidos, sem tempo para pensamentos e reflexões e sim ágeis com reações “pré-pró-ativas”. Estamos à mercê da comprovação e da constatação da necessidade de credibilidade, confiança, o medo generalizado e da tão ansiada privacidade que acabou com a liberdade que nos aprisiona numa senha. Hoje há o medo de arruinar a liberdade se passar o numero do telefone, imagine o caos existencial que se abateria sobre a pessoa ao divulgar o endereço ou cidade onde mora? Claro que sempre houve a possibilidade de uma caixa postal numa agência dos Correios.

As cartas você sabia que quem lhe escrevia era uma pessoa. De certa forma você “a conhecia”. Havia sessões em diversas revistas com pedidos de correspondência a partir uma mera descrição. Mesmo aquelas que você nunca viu e talvez nunca venha a vê-la, em algum momento houve uma prova de vida. Você acreditava na letra (mesmo que sejam aquelas letras horríveis e ilegíveis) e na intensão sutil que permeava a carta: amizade. Gente falsa e má sempre houve, ainda há hoje e com certeza existirá amanhã. Essa desconfiança elevada juntamente com a rapidez como as coisas são resolvidas sentenciou o fim do endereçamento de cartas tornando-o meramente comercial.

Se você escreve uma carta para alguém é o claro sinal de que a pessoa é importante para você. Se você recebe uma carta de alguém é o claro sinal que você é uma pessoa importante para ela. Se você não enviou uma carta não há possibilidade de receber uma carta.

Se ainda não escreveu uma carta, escolha um(a) amigo(a) e experimente essa sensação!

Essa prova de amizade é mão dupla!

HANA YORI DANGO

Provérbio japonês 花 よ り 団 子 hana yori dango "bolinhos em vez de flores;.

As pessoas estão mais interessados ​​na prática através da estética".




PANDORA

Procurando significado numa caverna mal iluminada

O significado é simples. Alias, como tudo e todo sentimento. Infelizmente coloca-se hierarquia no sentimento: gostar, adorar, amar, não necessariamente nesta ordem.

As vezes, ficamos nas nuvens quando amado, gostado ou adorado por alguém. Enchemos de alegria, satisfação e desejo por saber que nutrimos sentimentos por alguém, mesmo que a pessoa não saiba deste sentimento.

E se por sorte houver um reflexo ao meu sentimento simplesmente, levita-se.


Como não estar nas nuvens, se você me deu asas? 
Se ao pensar em você, elevo o espirito?
Errado, talvez. Mas acredito na pessoa de quem gosto.
Um olhar, uma foto ou uma ligação
equivale a verdadeiras
colunas de ar quente que me faz levitar 
sem esforço e sem conseguir disfarçar a felicidade.


É certo! Evidente! Claro!
Porém,
torna-se mais um ponto na escala de sentimentos.
Seria o ponto mais alto que duas pessoas podiam atingir num relacionamento?
Um verbo que conjuga conjuntamente uma ação: amar nos dois sentidos.
O máximo da demonstração do sentimento para com outro 
além da frase, do ato e do gesto.
Não se conjuga por ser estranho:
- eu redamo!
- eu sempre redamarei!
Quase um ouro com brilhantes quilates.


Silenciosamente, demonstro sem ferir
sua vida, seu jeito e sua aceitação.
Mesmo sem saber se a existência é verdadeira
para além do imaginário
Mesmo querendo que você seja 
pessoal além do meu sonho
Desejo faz parte do seu mundo
seu livro,
seu saber,
seu sentimento.


... finalmente você dormiu.


Em meus sonhos ouço sua voz
A me chamar por outro nome
A me pedir que te socorresse. 

Assim suas mãos me agarraram
Sem que eu pudesse te esquecer 
Vejo o seu medo, você paralisada
Como se visse uma queda a frente. 

Te abraço como se estivesse gelada
Te protegendo da chuva
Que impede que você chores.

Em meio a ventos bravios
Sinto seu corpo esquentar
E se esconder em meu peito.

Deitado com você, nem sonho mais.

As asas que nos trouxe ate aqui
São as mesmas que nos protege do frio. 

Ouço nosso coração compassado, 
finalmente você dormiu.


MUNDOS OPOSTOS

"What the eye doesn't see, the paranoia invented."

Simples assim. Difícil é acreditar que tem gente que acredita no que se escreve por aqui. E pior levam a sério! Se voce escreve algo encarnando um personagem (talvez um 'eu' letrado) certamente esta atitude personificará minha pessoa. Aquilo que compartilho não necessariamente sou eu, meu gosto ou 'disgosto' ou reflete o que passei, vivo ou espero viver. É um personagem escrevendo sobre um tema, sobre uma foto ou fato. Da mesma forma, quando não curtir determinado post não quer 'dizer' que não o li ou não dei a devida atenção.

Acho que o mundo real esta cada vez mais guiado pelo seu correlato virtual. FX é pouco para explicar. Qualquer rede social não é diferente de como age no bar, balada, campo de futebol, praia ou trabalho. Quando, você, nestes locais sai confessando a sua vida? Assim como aqui nao fala receando "invasao de privacidade" inventa "algo", lá se encarna um personagem sem problemas ou com todos os problema, um 'eu' com riqueza aparente nos tostões que carrega no bolso ou bolsa, que anda de taxi ou onibus mas desce antes e chega a pé. Talvez representar alguem que seja impossivel de ser.

A diferença esta entre a pessoa corpórea e a etéria (vamos dizer assim!). E o que diferencia? Aqui, como na vida pessoal, o grau de sinceridade. Nisto esta imbutido o respeito.  Ah!  mas isto esta faltando nos dois mundos.

- ESPERO PELO TÍTULO!




Cheguei à seguinte conclusão sobre tudo o que me ocorreu enquanto eu viajo olhando para aquelas fotos da nossa sessão: eu não me permitirei aceitar paixões momentâneas cheias de momentos passageiros como forma de sublimar o prazer à vida. 

Sabes por quê? Porque eu quero tudo desde o início. Desejo tudo de novo com você. Quero seus olhos de predador quando me olhavam com curiosidade e me despia com um único gesto. Quero sua boca a sugar minha boca. Desejo seus discursos gestuais na minha pele e suas tramas urdidas para futuros atentados. Quero fazer parte dos seus novos projetos. Quero de novo mais e mais surpresas inesperadas.  Quero tudo de novo! Eu quero! Não quero mais te procurar na agenda, te quero aqui: a silenciar as minhas tempestades e a atiçar meus incêndios. Quero que me obrigues a escalar esses preconceitos e a explorar as cavernas dogmáticas que eu mesma fui obrigada a construir.

Adoro você. Adoro com todos os corações possíveis. Adoro ser blindada pelo seu abraço. Adoro esse castelo que nos cerca, esse paraíso inumano que nos deixa nus de tempo e obrigações. Aliás, adoro jantar nua, só de scarpin preto, como se o epicentro do teu mundo fosse aos meus pés. Adoro, adoro, adoro! Adoro ser idolatrada e ser seu ícone de adoração. Adoro ser seu modelo e sua inspiração. Adoro ser sua criação e sua deusa. Adoro "você é meu oxigênio" sem ser sufocada por isto e sem "ser um mar". Adoro essa ilha que me contorna. Amo ser adorada por ti.

Por isto deixei de considerar as criticas. Ouvi-las é o mesmo que insultar-me. Não me importa que você seja Vulcano. Marte já morreu na ultima festa. Estou invariavelmente bela e determinada. Poucos ainda me reconhecem no que me tornei. Vejo o que não imaginava e sinto o que não sabia existir. 

E você abnegado e resignado, não pedindo nada, me extasia. Não quero ser reparada por esses doces danos implacáveis. Não mais irei permitir que você parta.

TREM NOTURNO PARA LISBOA


Em 'Trem noturno para Lisboa', Raimund Gregorius, professor de línguas clássicas em Berna, se levanta no meio da aula, abandona a sala e toma um trem para Lisboa. Em sua bagagem está um exemplar de reflexões filosóficas escrito pelo médico português Amadeu de Prado. Fascinado pelo livro, Gregorius decide investigar o autor. Em sua viagem, encontra pessoas que ficaram marcadas por seu relacionamento com esse homem excepcional, que o conheceram como médico, poeta ou combatente da ditadura.

Pascal Mercier é o pseudônimo literário do filósofo Peter Bieri. Nasceu em Berna em 1944 e até recentemente foi professor de Filosofia na Universidade de Berlim.

Peter Bieri
publicou, sob
o pseudónimo
PASCAL MERCIER
Trem Noturno a Lisboa, seu terceiro romance, vendeu em todo o mundo mais de 2.000.000 de exemplares desde que foi publicado em 2004 na Alemanha, onde ficou três anos na lista dos mais vendidos. O sucesso foi tanto que transformou o título do livro em uma expressão idiomática: vou tomar o trem noturno para Lisboa, ou seja, vou mudar de vida, tentar outros caminhos, buscar meus sonhos perdidos, aqueles sonhos que nem sequer tentei tornar verdadeiros.

UM OURIVES DAS PALAVRAS (alusão a Friedrich Nietzsche) - Dr. Amadeu Inácio de Almeida Prado, publicado em Lisboa pela Editora Cedros Vermelhos em 1975

Intertextualidade entre o livro Um ourives das palavras - de Amadeu Inácio Almeida Prado e O livro do desassossego - de Fernando Pessoa, Carta a meu pai - de Franz Kafka, O lobo da estepe – de Hermann Hesse [http://livros-que-li-e-reli.blogspot.com.br/2013/11/um-ourives-das-palavras-trem-noturno.html]


TRECHOS DO LIVRO

- "O 'o', que ela pronunciava surpreendentemente como um 'u', a sonoridade clara, estranhamente abafada do ê e o macio chiado no final soaram-lhe como uma melodia que, para ele, perdurou mais tempo do que na realidade, uma melodia que ele simplesmente adoraria ter escutado durante todo o resto do dia."

- "Haveria um mistério sob a superfície da atividade humana? Ou seriam as pessoas exatamente como se revelam através de suas ações explícitas?"

- "É um engodo achar que os momentos decisivos de uma vida, em que seus rumos habituais mudam para sempre, sejam necessariamente acompanhados de uma dramaticidade ruidosa e estridente, acompanhada de grandes surtos. (...) Na verdade, a dramaticidade de uma experiência decisiva para a vida é de natureza inacreditavelmente silenciosa."

- "Às vezes, temos medo de alguma coisa apenas porque temos medo de outra."

- "Havia pessoas que liam e havia as outras. Era fácil distinguir se alguém era leitor ou não. Não havia maior distinção entre as pessoas do que esta."

- "Quem sente dores ou medo não pode esperar."

- "Dizer alguma coisa para outra pessoa: como podemos esperar que aquilo possa surtir efeito? O fluxo de pensamentos, imagens e sentimentos que passa por nós tem uma força tal que seria um milagre se não inundasse simplesmente todas as palavras que outra pessoa nos diz, relegando-as ao esquecimento, a não ser que coincidentemente, muito coincidentemente, combinem com as nossas próprias palavras."

- "Mas o que é um ser humano sem segredos? Sem pensamentos e desejos que apenas ele próprio conhece?"

- "A imaginação, o nosso último santuário."

- "Como seria levar uma vida que se proíbe qualquer expectativa ousada e imodesta, uma vida em que somente houvesse expectativas banais, como a espera pelo próximo ônibus?"

- "Por que os vestígios do passado me entristessem, mesmo quando são vestígios de alguma coisa alegre?"

- "Viver o momento: soa tão certo e tão belo. Mas quanto mais desejo isso, menos percebo o que significa."

- "Como seria depois de ler a última frase? Sempre temera a última página, e a partir do meio do livro já o afligia periodicamente o pensamento de que teria de haver irremediavelmente uma última frase."

- "Será que tudo o que fazemos é pelo medo que temos da solidão?"

- "Eles riram e riram mais e mais, olharam um para o outro e sabiam que também estavam rindo sobre risos passados e sobre o fato de que se ri melhor daquilo que mais importa."

- "Dizer alguma coisa para outra pessoa: como podemos esperar que aquilo possa surtir efeito? O fluxo de pensamentos, imagens e sentimentos que passa por nós tem uma força tal que seria um milagre se não inundasse simplesmente todas as palavras que outra pessoa nos diz, relegando-as ao esquecimento, a não ser que coincidentemente, muito coincidentemente, combinem com as nossas próprias palavras."

- “Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que em nós existe, então o que acontece ao resto?”

- "Que pode - que deve - ser feito, com todo o tempo que temos pela frente? Em aberto e informe, leve como o ar na sua liberdade e pesado como chumbo na sua incerteza?"

- "É um desejo, um simples e nostálgico sonho, voltar a determinado ponto da nossa vida e poder tomar um rumo completamente diferente daquele que fez de nós quem somos?"

- “Quando falamos de nos próprios, sobre os outros ou simplesmente sobre coisas, o que pretendemos é — poderíamos dizer — nos revelar através de nossas palavras: Queremos dar a conhecer o que pensamos e sentimos. Permitimos que os outros lancem um olhar para dentro de nossa alma. (We give them a piece of our mind).”

- “[...] Adoro túneis. Eles são para mim, a imagem da esperança: em algum momento tudo voltará a ficar claro. Caso não seja noite. Às vezes recebo visitas no compartimento. Não sei como isto é possível, com a porta trancada e selada, mas acontece. Geralmente esta visita vem num momento impróprio. São pessoas do presente e do passado. Vem e vão, conforme querem, não têm respeito e me incomodam. Preciso falar com elas. É tudo provisório, descomprometido, voltado ao esquecimento, conversas de trem. Alguns visitantes desaparecem sem deixar rastro. Outros deixam rastros pegajosos e fétidos, não adianta arejar. Nestas horas quero arrancar todo o mobiliário do compartimento para trocar por um novo. A viagem é comprida. Há dias em que desejo que seja infinita. São dias invulgares, preciosos. Há outros em que fico aliviado por saber que haverá um ultimo túnel em que o trem parará para sempre.”

- “Força-te, força-te a vontade e violenta-te, alma minha; mais tarde, porém, já não terás tempo para te assumires e respeitares. Porque de uma vida apenas, de uma única dispõe o homem. E se para ti esta já quase se esgotou , nela não soubeste ter por ti respeito, tendo agido como se a tua felicidade fosse a dos outros... Aqueles, porém, que não atendem com atenção os impulsos da própria alma são necessariamente infelizes.”

- “As vezes, temos medo de uma coisa apenas porque temos medo de outra”. 

- “O verdadeiro encenador da nossa vida é o acaso— um encenador cheio de crueldade, misericórdia e encanto cativante.” 

- “A vida não é aquilo que vivemos, é aquilo que imaginamos viver.”

- “A imaginação é o nosso último refúgio.”

- “As pessoas não suportam o silêncio, isso significaria que elas teriam de se suportar a si próprias”

- “Alguém que realmente quer conhecer a si mesmo deveria ser um colecionador obcecado e fanático de desilusões, e a procura de experiências decepcionantes deveria ser, para ele, como um vício, na verdade como um vício dominante na sua vida, pois então ele compreenderia, com toda a clareza, que a desilusão não é um veneno quente e destruidor, e sim um bálsamo refrescante e tranqüilizante que nos abre os olhos para os verdadeiros contornos sobre nos mesmos.”

- “Quando deixamos determinado lugar, deixamos para trás um pedaço de nós, permanecemos lá, apesar de partirmos. E há coisas em nós que só podemos recuperar se voltamos para lá.”

- “Estremeço só de pensar na força não intencional e desconhecida, porém inexorável e inevitável, com que os pais deixam marcas nos seus filhos, as quais, como marcas de queimadura, nunca mais poderão ser eliminadas. “ 

- “Qualquer instante pode ser o último. Sem o mínimo pressentimento, no mais completo desconhecimento, vou transpor uma parede invisível atrás da qual não existe nada, nem sequer a escuridão. O meu próximo passo pode muito bem ser o passo através dessa parede. Não seria ilógico sentir medo disso, uma vez que nem vou vivenciar esse súbito apagar e sabendo de antemão que tudo é assim mesmo?”

- “As histórias que os outros contam sobre nós e as histórias que nós mesmos contamos – quais delas se aproximam mais da verdade?”

- “Medo se tem de algo que ainda está por acontecer, que ainda temos que enfrentar.”

- “Cheguei a pensar que o espírito de Amadeus era, antes de mais nada, linguagem, – que a sua alma era feita de palavras.”

- “Um ruído alto, que parecia vir de uma distância medieval.”

- “Silencioso como um navio sepultado no fundo do mar.”

- “Na escuridão, o ranger da porta parecia bem mais ruidoso do que durante o dia, mais ruídoso e mais proibitivo.”

- "Quando a ditadura é um fato, a revolução é um dever"

- "O real diretor da vida é o acidente, um diretor cheio de compaixão atroz e charme encantador."

- "Na juventude, vivemos como se fôssemos imortais, Conhecimento de mortalidade dança em torno de nós como uma fita de papel frágil que quase não toca a nossa pele. Quando, na vida isso muda? Quando é que a fita apertar, até que finalmente ele estrangula-nos?"

- "Nós vivemos aqui e agora, tudo antes e em outros lugares é passado e esquecido na maior parte".

FONTE:


DISCURSO DE Amadeu Prado no LICEU CATOLICO:

Reverência e aversão perante a palavra de Deus.

Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso de sua beleza e de sua transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo. Quero erguer o meu olhar para seus vitrais brilhantes e me deixar cegar pelas cores etéreas. Preciso do seu esplendor. Preciso dele contra a gritaria no pátio da caserna e a conversa frívola dos oportunistas. Quero escutar o som oceânico do órgão, essa inundação de sons sobrenaturais. Preciso dele contra a estridência ridícula das marchas. Amo as pessoas que rezam. Preciso de sua imagem. Preciso dela contra o veneno traiçoeiro do supérfluo e da negligência. Quero ler as poderosas palavras da Bíblia. Preciso da força irreal de sua poesia. Preciso dela contra o abandono da linguagem e a ditadura das palavras de ordem. Um mundo sem essas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver.

Mas existe ainda um outro mundo no qual eu não quero viver: um mundo em que se demoniza o corpo e o pensamento independente e onde as melhores coisas que podemos experimentar são estigmatizadas e consideradas pecado. O mundo em que nos é exigido amar os tiranos, os opressores e assassinos, mesmo quando seus brutais passos marciais ecoam atordoantes pelas vielas ou quando se esgueiram, silenciosos e felinos, como sombras covardes pelas ruas e travessas para enterrar, por trás, o aço faiscante no coração de suas vítimas. Entre todas as afrontas que se lançaram do alto dos púlpitos às pessoas, uma das mais absurdas é, sem dúvida, a exigência de perdoar e até de amar essas criaturas. Mesmo se alguém o conseguisse, isso significaria uma falsidade sem igual e um esforço de abnegação desumano que teria que ser pago com a mais completa atrofia. Esse mandamento, esse desvairado e absurdo mandamento do amor para com o inimigo, serve apenas para quebrar as pessoas, para lhes roubar toda a coragem e toda a autoconfiança e para torná-las maleáveis nas mãos dos tiranos, para que não consigam encontrar forças para se levantar contra eles, se necessário, com armas. 

Venero a palavra de Deus, pois amo a sua força poética. Abomino a palavra de Deus, pois odeio a sua crueldade. Este amor é um amor difícil, pois tem que distinguir constantemente entre o brilho das palavras e a subjugação verborrágica a uma divindade presumida. Este ódio é um ódio difícil, pois como é que podemos nos permitir odiar palavras que fazem parte da própria melodia da vida nessa parte da Terra? Palavras que para nós foram dadas como finais, quando começamos a pressentir que a vida visível não pode ser toda a vida? Palavras sem as quais não seríamos aquilo que somos?

Mas não nos esqueçamos: são palavras que exigem de Abraão que sacrifique o seu próprio filho como se fosse um animal. O que fazer com a nossa ira quando lemos isto? Um Deus que acusa Jó de disputar com ele quando nada sabe e nada entende? Quem foi que o criou assim? E por que seria menos injusto quando Deus lança alguém no infortúnio sem motivo do que quando um comum mortal o faz? E Jó não teve todos os motivos para a sua queixa?

A poesia da Palavra divina é tão avassaladora que cala tudo e reduz toda e qualquer contestação a um uivo lastimável. É por isso que não se pode simplesmente pôr a Bíblia de lado, mas ela deve ser jogada fora assim que estejamos fartos de suas exigências e do jugo que ela nos impõe. Nela, manifesta-se um Deus avesso à vida, sem alegria, um Deus que quer restringir a poderosa dimensão de uma vida humana – o grande círculo que descreve quando está em plena liberdade – a um só e limitado ponto de obediência. Carregados com o fardo da mágoa e o peso do pecado, ressequidos pela subjugação e pela falta de dignidade da confissão, a testa marcada pela cruz de cinza, devemos marchar em direção à sepultura, na esperança mil vezes contestada de uma vida melhor a Seu lado; mas como pode ser melhor ao lado de alguém que antes nos privou de todos os prazeres e de todas as liberdades?

E, no entanto, as palavras que vêm de Deus e para ele se dirigem são de uma beleza avassaladora. Como as amei nos tempos de coroinha! Como me embriagaram no brilho das velas do altar! Como pareceu claro, tão claro quanto a luz do sol, que aquelas palavras fossem a medida de todas as coisas! Como parecia incompreensível, para mim, que as pessoas dessem importância também para outras palavras, quando cada uma delas não podia significar mais do que dispersão desprezível e perda da essência! Ainda hoje paro quando escuto um canto gregoriano, e durante um instante irrefletido fico triste que este estado de embriaguez tenha dado lugar irremediavelmente à rebelião. Uma rebelião que se ateou em mim como uma labareda quando, pela primeira vez, escutei estas palavras: sacrificium entellectus.

Como podemos ser felizes sem a curiosidade, sem questionamentos, dúvidas e argumentos? Sem o prazer de pensar? As duas palavras que são como um golpe de espada que nos decapita não significam nada menos senão a exigência de vivenciar nossos sentimentos e nossas ações contra o nosso pensar, são um convite para uma dilaceração ampla, a ordem de sacrificar precisamente o núcleo da felicidade: a harmonia interior e a concordância interna de nossa vida. O escravo na galé está acorrentado, mas pode pensar o que quiser. Mas o que Ele, o nosso Deus, exige de nós, é que interiorizemos com nossas próprias mãos a escravidão nas profundezas mais profundas e que, ainda por cima, o façamos voluntariamente e com alegria. Pode haver escárnio maior?

Em sua onipresença, o Senhor é alguém que nos observa dia e noite, que a cada hora, cada minuto, cada segundo registra nossas ações e nossos pensamentos, nunca nos deixa em paz, nunca nos permite um momento sequer em que possamos estar a sós conosco. Mas o que é um ser humano sem segredos? Sem pensamentos e desejos que apenas ele próprio conhece? Os torturadores, os da Inquisição e os atuais, sabem: corte-lhe a possibilidade de se retirar para dentro, nunca apague a luz, nunca o deixe a sós, negue-lhe o sono e o sossego, e ele falará. O fato de a tortura nos roubar a alma significa: ela destrói a solidão com nós mesmos, da qual necessitamos como do ar para respirar. O Senhor, nosso Deus, nunca percebeu que, com sua desenfreada curiosidade e sua repugnante indiscrição, nos rouba uma alma que, ainda por cima, deve ser imortal?

Quem é que realmente quer ser imortal? Quem quer viver por toda a eternidade? Como deve ser tedioso e vazio saber que não tem a menor importância o que acontece hoje, este mês, este ano, pois ainda sucederão infinitos dias, meses, anos. Infinitos no sentido literal da palavra. Alguma coisa ainda contaria, neste caso? Não precisaríamos mais contar com o tempo, não perderíamos mais oportunidades, não teríamos mais que nos apressar. Seria indiferente se fizéssemos alguma coisa hoje ou amanhã, totalmente indiferente. Diante da eternidade, negligências milhões de vezes repetidas se tornariam um nada e não faria mais sentido lamentar alguma coisa, pois sempre haveria tempo para recuperar. Não poderíamos nem mesmo nos entregar à simples fruição do dia, pois essa sensação de bem-estar decorre da consciência do tempo que se esvai, o ocioso é um aventureiro perante a morte, um cruzado contra o ditado da pressa. Onde ainda existe espaço para o prazer em esbanjar tempo quando existe tempo sempre, em todo lugar, para tudo e para todos?

Um sentimento não é idêntico quando se repete. Tinge-se de outras nuances pela percepção do seu retorno. Cansamo-nos dos nossos sentimentos quando se repetem muitas vezes ou duram demais. Na alma imortal surgiria, portanto, um tédio gigantesco e um desespero gritante perante a certeza de que aquilo nunca acabará, nunca. Os sentimentos querem evoluir, e nós com eles. São o que são porque repelem o que já foram e porque fluem em direção a um futuro onde mais uma vez se afastarão de nós. Se esse caudal desaguasse no infinito, milhares de sensações teriam que surgir dentro de nós, que, acostumados a uma dimensão limitada de tempo, nunca conseguiríamos imaginar. De modo que, pura e simplesmente, nem sabemos o que nos é prometido quando ouvimos falar da vida eterna. Como seria sermos nós próprios na eternidade, sem o consolo de podermos, um dia, vir a ser redimidos da obrigação de sermos nós? Não o sabemos, e o fato de nunca o virmos a saber representa uma bênção. Pois uma coisa podemos estar certos: seria um inferno, esse paraíso da imortalidade. 

É a morte que confere o instante a sua beleza e o seu pavor. Só através da morte é que o tempo se transforma num tempo vivo. Por que e que o Senhor, Deus onisciente, não sabe disso? Por que nos ameaça com uma imortalidade que só poderia significar um vazio insuportável?

Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso do brilho de seus vitrais, de sua calma gelada, de seu silêncio imperioso. Preciso das marés sonhadas do órgão e do sagrado ritual das pessoas em oração. Preciso da santidade das palavras, da elevação da grande poesia. Preciso de tudo isso.  Mas não menos necessito da liberdade e do combate a toda a crueldade. Pois uma coisa não é nada sem a outra. E que ninguém me obrigue a escolher.

FONTE:

BILHETE

Você esteve em casa de novo e eu não estava lá para te receber. Temos uma sucessão de coincidências que nos deixa sempre esperando por um novo desencontro. Será que você só aparece quando não estou ou eu nunca estou onde você se encontra? Na semana passada, te esperei com um filme francês, uma pizza italiana e um vinho português mas, quase que resignadamente, sabia que você não viria à este lugar tão equidistante da civilização cosmopolita. O que me deixou felicíssimo foi perceber seus beijos. Vermelho fire, que bom que você gostou do batom! Tenho certeza que deixaram seus lábios mais lindo do que são realmente. Gosto de acreditar que esses beijos na parede eram para mim. Quarta-feira, às sete horas, ficarei de plantão à porta, esperando a faxineira: - não limpe essa parede, não apague a minha felicidade de voltar para casa - direi eu à senhora.

Espero que você tenha levado esse bilhete.

Com amor, Fã.

DIARY OF MY PASSION - 10

Você poderia escrever, comentar ou simplesmente criticar o DIARY OF MY PASSION?
O que você escrever, eu publico aqui.
OBRIGADO!

CONSELHOS DE UMA PUTA VELHA

NÃO SE ESFORCE DEMAIS.

O lingerie de seda, o perfume importado e o jantarzinho a luz de velas com vinho caro é para quem merece. Algumas mulheres têm mania de pegar um ficante que encontrou há a uma semana na balada, levar pra casa e tratar como um rei. Tratamento vip é para namorado firme e marido, se merecerem. Porte-se como uma joia rara e como tal não se doe facilmente para o primeiro que aparecer, não importa o nível da sua carência, seja valiosa.

PARE DE SER TÃO BOAZINHA.

Abrir mão do que gosta, mudar o jeito de ser, deixar de se divertir, só porque começou um relacionamento e está apaixonada? Homem gosta de mulher com vida própria, orbitar em volta dele é receita certa para o fracasso, ele pode momentaneamente demonstrar que gosta deste estilo, mas logo se cansa. No fim você perde o namorado e os amigos. Sem contar que ele não vai abrir mão de assistir futebol para ficar com você. Use o mesmo critério para lidar com ele e no fim ele estará te acompanhando em tudo, feliz da vida, afinal é muito bom estar ao lado de pessoas que tem vida.

PARE COM OS JOGUINHOS.

Os casais perdem a oportunidade de se conhecer de verdade e sem máscaras. Está manjado demais transar só no terceiro encontro, não responder a mensagem antes de 60 minutos, só atender o telefone no quinto toque, fazer ciúmes sem necessidade e fingir que não dá a mínima. Encontrar o equilíbrio entre ser disponível demais e ser inacessível está difícil. Ninguém mais demonstra interesse e tesão pelo outro de forma saudável. Nunca sabemos se o outro não liga no dia seguinte porque não está interessado ou porque está se fazendo de difícil para valorizar o passe. Ter tato para não perder a dignidade e saber a hora de bater em retirada é importante, mas um pouco de transparência e sinceridade não faz mal a ninguém. Se for fazer joguinho, seja inteligente, crie novos truques, pois alguns já estão batidos demais.

JAMAIS SE REBAIXE.

Não importa qual foi a traição, a culpa é do seu parceiro e não da “vagabunda” que ele comeu, a não ser que ela tenha colocado um revolver na cabeça dele. Essa história de mulher bater na amante é ridícula. Nenhum homem é digno de escândalos e manifestações públicas de ciúmes, isso inclui as indiretas nas redes sociais. Mesmo que tiver chorando lágrimas de sangue, fique em cima do salto, ninguém precisa saber da sua condição miserável, não dê esse gostinho para as inimigas e para algumas amigas falsas e invejosas. Aprenda, para algumas pessoas só contamos as vitórias!

SEJA VOCÊ MESMA.

A performance do filme pornô de quinta categoria não precisa necessariamente  ir para sua cama, nada mais patético que a mulherada  que finge orgasmo e ainda quer contar vantagem “ pras amiga”. Sem contar que se a coisa for forçada demais o homem percebe. Já ouvi depoimentos de caras que simplesmente brocharam em situações assim. Nada contra quem gosta do estilo e faz porque realmente gosta e está com vontade, mas tudo que é falso e feito somente para tentar impressionar o outro pode gerar efeito contrário.

A DIFERENÇA ENTRE SER FEMININA E MULHERZINHA.

Homem quer ser homem, o chefe da casa. Suba na cadeira e chame o gato pra matar a barata, peça-o para abrir a conserva de azeitona e trocar a resistência do chuveiro (essa é uma lição que ainda não aprendi). Quando o macho alfa terminar, não esqueça de agradecer e elogiar tanta virilidade Não importa se você  é presidente de uma multinacional e ganha cinco vezes mais que ele, seu parceiro vai adorar uma mulher feminina que o valorize enquanto homem e que o faça sentir-se útil (isso se ele merecer). A mulherzinha olha a marca do carro, dá golpe dá barriga e é manipuladora, faz escândalo por qualquer coisa, quebra as finanças do parceiro, requer atenção total, mas é afetivamente mesquinha, só recebe. Mulherzinha, ai que preguiça! Para os leitores que levam tudo ao pé da letra, é claro que esse é um exemplo, existem infinitas possibilidades para valorizar um homem, e não podemos limitá-los apenas a matadores de baratas e abridores de conservas.

ESCOLHA BEM SEU PARCEIRO USE A RAZÃO NÃO SÓ O CORAÇÃO.

A mulherada lutou e luta tanto por igualdade, mas hoje tem jornada dupla e até tripla para dar conta da vida profissional, casa, filhos e marido. Queria saber onde está a igualdade nisso, pois enquanto a mulher se desdobra, muitos maridos estão no sofá assistindo tv ou no bar com os amigos. Quando for se relacionar com alguém, antes de se envolver loucamente em um amor de pica sem fim, preste muita atenção na sogra, veja como ela trata os filhos. Dá tudo na mão, recolhe os sapatos e meias sujas pela casa, faz o pratinho de comida com o feijão em cima, lava as cuecas, defende cada um até a morte mesmo que estejam errados? Se for esse o caso, AMIGA CORRAAAAA! Caso contrário, você será uma forte candidata a Amélia emancipada.

O BOROGODÓ – MAGNETISMO PESSOAL E AMOR PRÓPRIO VALE MAIS QUE UM CORPO SARADO.

A mulherada está caprichando tanto no treino, na lipoaspiração e no silicone, mas o número de fracassos amorosos não diminui. Outra ala se sente gorda demais e sem autoconfiança para atrair o sexo oposto, mas também não faz nada para mudar. Existem mulheres que aparentemente não possuem nada de especial, podem até ser “feias”, porém, por alguma razão os homens caem aos seus pés. Esse magnetismo em algumas mulheres vem de onde? O que elas têm é independência emocional, se apoiam sozinhas,  se bastam, tem outras metas além de agarrar um homem, estudam, trabalham, viajam e são felizes sozinhas ou acompanhadas. Não vivem carentes chorando pelos cantos, não são cheias de mágoas, não pegaram ódio dos homens por conta de decepções do passado.  Aconteça o que acontecer, essas mulheres estão sempre de cabeça erguida e tem uma vida que não se limita apenas em se arrumar para encontrar um macho.

SEJA UMA PUTA ENTRE QUATRO PAREDES E O QUE QUISER NA SOCIEDADE.

Afinal o que é ser uma dama na sociedade? 
A Amélia emancipada devotada à família, a esposa renegada que trabalha que nem camela para dividir com o marido as contas de casa? 
Tem algo mais irritante que estereótipos do que é ser uma boa mãe e esposa? E a quantidade de cobranças que recebemos quando não atendemos esse modelo? 
E essa mulher resignada e atarefada, consegue ser o mulherão que os homens adoram entre quatro paredes? 
Claro que não! Conheço casais que nunca conversaram sobre suas preferências e fantasias sexuais.
Tudo bem que não é fácil manter o tesão a todo vapor 100% do tempo, mas quanto vale o seu relacionamento? 
Será que ele não merece um pouco mais de investimento? 
Nem é tão difícil assim satisfazer um homem, faça bem feito, faça com gosto, mostre que ele é desejado (se ele merecer) nem precisa se pendurar no lustre e saber todas as posições do kama sutra, basta tirar algumas horas para dedicar exclusivamente a ele, com amor, carinho e uma pitada de sacanagem, por que não? 
Por ele sim vale investir no jantarzinho a luz de velas, no lingerie de renda e no vinho caro.

Esse título foi inspirado por uma grande amiga, prostituta aposentada, que acumulou uma experiência de vida que poucas vezes vi igual. Foi inspirado também no livro Por que os Homens Amam as Mulheres Poderosas? Argov, Sherry . Na verdade, ela tem a idade da minha mãe e sempre me deu conselhos dizendo: – Ouve o conselho dessa puta velha! Por incrível que pareça, toda vez que não seguia os conselhos dela me dava mal. Esta mulher até hoje tem em suas mãos tudo que quer e um poder de atração de dar inveja a qualquer ninfeta de 20 anos,  soube investir todo dinheiro que ganhou e tem uma vida mais que tranquila ao lado do grande e único amor de sua vida. E quando pensamos em puta, pensamos logo em promiscuidade e vender o corpo, mas tem muita puta por aí mais digna e honesta que certas mulheres tidas como “damas da sociedade”, mas que já se venderam mais que tudo e por muito pouco. Histórias assim são para quebrar os paradigmas e fazer repensar alguns valores, sem contar que chacoalham os puritanos, as feministas e críticos de plantão.
Ísis Toth

SEREIAS

Estou preso a essa ilha
de corações enferrujados,
por ter acreditado
nas lágrimas doces das sereias.
Estou preso a esse labirinto
de falsas águas
por ter me apaixonado
pelas escamas ardentes de prazer.
Agora,
quero me livrar deste peso
que me faz flutuar nesta realidade.
O amor o ódio se digladiam,
ponteiros de relógio na batalha do destino.
Como posso livrar-me delas
se eu não existo sem elas?

Para o amor incondicional florescer

Podemos transformar um relacionamento viciado em um relacionamento verdadeiro?

Sim, se estivermos conscientes e aumentarmos a nossa presença, concentrando a atenção cada vez mais fundo no Agora.

A chave do segredo será sempre essa, não importa se você está vivendo só ou com alguém. Para o amor incondicional florescer, a luz da nossa presença tem de ser forte o bastante, de modo a impedir que o pensador ou o sofrimento do corpo nos domine.

Saber que cada um de nós é o Ser por baixo do pensador, a serenidade por baixo do barulho mental, o amor e a alegria por baixo da dor, significa liberdade, salvação e iluminação. Pôr fim à identificação com o sofrimento do corpo é trazer a presença para o sofrimento e, assim, transformá-lo. Pôr fim à identificação com o pensamento é ser o observador silencioso dos próprios pensamentos e atitudes, em especial dos padrões repetitivos gerados pela mente e dos papéis desempenhados pelo ego.

Se paramos de injetar “autossuficiência” na mente, ela perde sua qualidade compulsiva, que é o impulso para julgar e, desse modo, criar uma resistência ao que é, dando origem a conflitos, tragédias e novos sofrimentos. Na verdade, no momento em que paramos de julgar, no instante em que aceitamos aquilo que é, ficamos livres da mente e abrimos espaço para o amor incondicional, para a alegria e para a paz. Em primeiro lugar, paramos de nos julgar, depois paramos de julgar o outro.

O grande elemento catalisador para mudarmos um relacionamento é a completa aceitação do outro do jeito que ele é, sem querermos julgar ou modificar nada. Isso nos leva imediatamente para além do ego. Nesse momento, todos os jogos mentais e toda a dependência viciada deixam de existir. Não existe mais vítima nem agressor, acusador nem acusado. Esse é também o fim da dependência, de uma atração pelo padrão inconsciente do outro.

Você, então, ou vai se afastar – com amor – ou penetrar cada vez mais fundo no Agora junto com o outro. É simples assim. O amor é um estado do Ser. Não está do lado de fora, está bem lá dentro de nós. Não temos como perdê-lo e ele não consegue nos deixar. Não depende de um outro corpo, de nenhuma forma externa.

Na serenidade do estado de presença, podemos sentir a nossa própria realidade sem forma e sem tempo, que é a vida não manifesta que dá vitalidade à nossa forma física. Conseguimos, então, sentir essa mesma vida lá no fundo de outro ser humano, de cada criatura. Conseguimos enxergar além do véu opaco da forma e da desunião. Essa é a realização da unidade. Isso é amor incondicional. Só assim tem-se uma relação iluminada entre um homem e uma mulher.

Eckhart Tolle

BOM APETITE

Devora-me como se não comesse a anos.
Alimenta o meu desejo de te saciar.
Me toma de jeito e me inspecione da cabeça ao rabo.
Desfaça da pele, da casca e das escamas protetora.
Me lave e me deixe limpa para a preparação.
Vire e revire-me do avesso.
Destrincha-me e retire de mim esse meu interior sem importância.
Tire tudo que só me preenche!
Pode sacar tudo aquilo que não te goza!
Deite fora meus medos, meus gritos, minhas duvidas.
Eviscere meu passado, meu presente e meu futuro.
Me deixe silenciosamente oca para receber teu delicioso recheio.
Traga sua gula a mesa.
Tempere-me com sua volúpia mas aviso, não venha com pitadas.
Me saborize com sua vivência quero ser surpreendida pelo seu sabor.
Use quantas ervas quiser para me deixar em ponto-de-bala.
Não deixe de flambar minhas culpas para exorcizar o meu bem passado.
Refogue o amor e o sexo ate obter o tom inebriante da perversão.
Salteie todas minhas fantasias enquanto fico marinando a espera.
Regue cada naco de mim com o seu melhor vinho sem me deixe secar pois
vou gemer as claras e será na sua fervura que vou me cozer.
Quero ser mastigada nua em sua dura mesa posta.
Me corte, me talhe, me fatie, me passa o gume: eu quero ser cozida
lentamente, deglutida por inteira e saboreada aos pedaços.
Coma minha polpa quente com as mãos e se lambuze no meu sugo lascivo.
Te quero lambendo até a última gota do meu prato.
Desejo sentir sua língua faminta lambendo a textura da minha carne.
Unte a minha paixão o quanto basta.
Amo ter no meu forno o seu fogo que me assa exclusivamente.
Gosto tanto da sua boca enquanto come meu alimento que sempre me engasgo.
Espero, ao sorver meu molho, poder saciar sua sede florestal e essa
fome animal que te tempera.
Quero que seja minha guarnição pois preciso ser guisada, ensopada e
atolada dia e noite em uma mistura insana.
Cobiço que sua bebedeira em minha espuma etílica seja imensa e que
sorvendo-me aos poucos sem pressa lhe deixe em um coma esfolador.

Saiba que sua gula é meu prazer e que seu pecado é minha benção.
Quero restaurar em você a sua vontade de viver te saciando com essa receita.

É PRECISO IR EMBORA


Ano passado, na festa de despedida de uma amiga, ouvia calada e com atenção seu dolorido discurso sobre o quanto ela se preocupava com a decisão de ir embora. Dizia se preocupar com a saudade antecipada da família, com a tristeza em deixar um amor pra trás e com a dor de se afastar dos amigos. Ela iria embora para Londres com tantas incertezas sobre cá e lá, que o intercambio mais parecia uma sentença ao exílio.

Dentre dicas e conselhos reconfortantes de outras amigas, lembro-me de interromper a discussão de forma mais fria e prática do que gostaria:

“Quando você estiver dentro daquele avião, olhar pra baixo e ver todas estas dúvidas e desculpas do tamanho de formigas, voltamos a falar. E você vai entrar naquele avião, nem que eu mesma te coloque nele.”

Ela engoliu seco e balançou a cabeça afirmativa.

Penso que na época poderia ter adoçado o conselho. Mas fato é que a minha certeza era irredutível, tudo que ela precisava era perspectiva. Olhar a situação de outro ângulo, de cima, e ver seus dilemas e problemas como quem olha o mundo de um avião. Óbvio, eu não tirei essa experiência da cartola. Eu, como ela, já havia sido a garota atormentada pelas dúvidas de partir, deixando tudo pra trás rumo ao desconhecido. Hoje sei que o medo nada mais era do que fruto da minha (nossa) obsessão em medir ações e ser assertiva. E foi só com o tempo e com as chances que me dei que descobri que não há nada mais libertador e esclarecedor do que o bom e velho tiro no escuro.

Hoje a minha amiga não tem mais dúvida. Celebra a vida que ela criou pra ela mesma lá na terra da rainha, onde eu mesma descobri tanto sobre minha própria realeza. Ironicamente – e também assim como eu – ela aprendeu que é preciso (e vai querer) muitas vezes uma certa distancia do ninho. Aprendeu que nem todo amor arrebatador é amor pra vida inteira. Que os amigos, aqueles de verdade, podem até estar longe, mas nunca distantes. Hoje ela chama o antigo exílio de lar, e adora pegar um avião rumo ao desconhecido. Outras, como eu, e como ela, fizeram o mesmo. Todas entenderam que era preciso ir embora.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você entenda que você não é tão importante assim,  que a vida segue, com ou sem você por perto. Pessoas nascem, morrem, casam, separam e resolvem os problemas que antes você acreditava só você resolver. É chocante e libertador – ninguém precisa de você pra seguir vivendo. Nem sua mãe, nem seu pai, nem seu ex-patrão, nem sua pegada, nem ninguém. Parece besteira, mas a maioria de nós tem uma noção bem distorcida da importância do próprio umbigo – novidade para quem sofre deste mal: ninguém é insubstituível ou imprescindível. Lide com isso.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você veja que você é muito importante sim! Seja por 2 minutos, seja por 2 anos, quem sente sua falta não sente menos ou mais porque você foi embora – apenas sente por mais tempo! O sentimento não muda. Algumas pessoas nunca vão esquecer do seu aniversario, você estando aqui ou na Austrália. Esse papo de “que saudades de você, vamos nos ver uma hora” é politicagem. Quem sente sua falta vai sempre sentir e agir. E não se preocupe, pois o filtro é natural. Vai ter sempre aquele seleto e especial grupo  que vai terminar a frase “Que saudade de você…” com  “por isso tô te mandando esse áudio”;  ou “porque tá tocando a nossa música” ou “então comprei uma passagem” ou ainda “desce agora que tô passando aí”.

Então vá embora. Vá embora do trabalho que te atormenta. Daquela relação que você sabe não vai dar certo. Vá embora “da galera” que está presente quando convém.  Vá embora da casa dos teus pais. Do teu país. Da sala. Vá embora. Por minutos, por anos ou pra vida. Se ausente, nem que seja pra encontrar com você mesmo. Quanto voltar – e se voltar – vai ver as coisas de outra perspectiva, lá de cima do avião.

As desculpas e pré-ocupações sempre vão existir.  Basta você decidir encarar as mesmas como elas realmente são – do tamanho de formigas.

Fim da sessão.

FONTE:
ANTÔNIA NO DIVÃ
25 DE FEVEREIRO DE 2015 

Desculpe, não me lembro de você

É chato ouvir isso, mas acontece – e não mata
Ivan Martins

Todos nós somos inesquecíveis, claro. Mas algumas pessoas, estranhamente, se esquecem de nós. E nós também nos esquecemos de pessoas. Se a vida fosse simples, não haveria problema. “Desculpe, eu não me lembro de você”. Diante dessa frase, perfeitamente compreensível, a pessoa explicaria, rapidamente, onde e quando vocês se conheceram – e que tipo circunstância compartilharam. Foi trabalho, lazer ou prazer?

Mas a vida está longe de ser simples. Diante de um sorriso de intimidade num rosto estranho, a maior parte de nós mergulha em pânico social. Em vez de admitir ignorância, somos levados a agir como tontos. Sorrimos de forma mecânica, entabulamos uma conversa sem sentido, esperamos que o cérebro – o mesmo que acaba de nos deixar na mão – encontre uma saída para a enrascada. A quem pertence esse rosto, meu deus? De quem é essa voz que se dirige a mim com tanta naturalidade? Todos já passamos por esse pesadelo.

Faz muito tempo eu vi um filme francês no qual havia uma cena desse tipo, deliciosa.

O sujeito entra no bar, senta-se em frente da garçonete e faz cara de criança feliz. A moça olha, estranha a atitude dele e, afinal, pergunta: você e eu nos conhecemos? O rapaz balança a cabeça afirmativamente. Ela faz cara de brava, afasta-se, mas volta, minutos depois, curiosa. “Nós transamos?”, pergunta. O rapaz assente, com entusiasmo. Na cena seguinte, estão os dois na cama, com cara de que deu tudo errado. Ela diz uma única frase: “Agora me lembrei de você”.

Afinal, o que nos torna esquecíveis ou inesquecíveis?

Minha impressão é que isso nada tem a ver com qualidades inerentes, como beleza, charme e habilidades. É uma questão de circunstância. Às vezes estamos tão agitados ou tão distraídos que a mais bela mulher do mundo pode passar sem deixar marcas. Diante do cenário em movimento, torna-se um rosto ou um corpo sem identidade. Outro. Há fases da vida dos homens e das mulheres em que isso tende a acontecer. Pela quantidade, pela repetição, pela ausência de relevo emocional. A tristeza provoca esse tipo de sensação. Ou a euforia. Tudo fica mais ou menos igual. As coisas e pessoas vão se sucedendo e todas elas ficam parecidas. É provável que alguém que passe pela vida do sujeito – ou da moça – num período desses, seja posto de lado na memória, logo em seguida. Sem desonra. A gente nunca sabe o que se passa no interior do outro.

Uma vez, anos atrás, estava com meus filhos na Fnac e avistei uma namorada de adolescência que foi, para mim, da maior importância. Ela estava na faculdade, eu no colégio. Ela era culta e bem informada, eu, louco para aprender. Longas conversas, sexo desengonçado, política, filmes e passeios no Bom Retiro. Jamais me esqueci dela. Como poderia? Pois nesse dia, na Fnac, minha ex-namorada demorou uma eternidade para lembrar-se de mim. Eu lá, sorrindo, emocionado, exibindo as minhas crias, e ela me fitando como se eu fosse de Marte. Longos minutos depois, quando eu, de tanto explicar, consegui que ela recordasse alguma coisa, a reação foi ainda pior. Ah, sim, Ivan… com uma expressão de quase indiferença no rosto. Fiquei desconcertado. Ela fora importante na minha vida, mas a recíproca, obviamente, não era verdadeira. Recolhi minha alegria sem contexto e fui embora, explicando aos meus filhos sobre a arte do desencontro. Sem desonra. A gente nunca sabe o que se passa no interior do outro.

Agora que inventaram o Facebook, essas coisas estão acontecendo em escala muito maior, planetária. Na vida de todo mundo. Eu não sou o cara mais popular da cidade, nunca fui, e, mesmo assim, vira e mexe aparece alguém no meu perfil, se reapresentado: então, lembra de mim? Às vezes eu não me lembro de nada e deixo por isso mesmo. A memória deve ter suas razões. Em outras ocasiões eu quase lembro, quase sei quem é a pessoa, e isso me deixa curioso. O que terá havido que eu borrei na memória?

Outro dia aconteceu algo assim. Apareceu um nome, um rosto e uma alegria gostosa em me reencontrar, depois de uns 10 anos. Como não era uma conversa frente a frente, o embaraço foi menor. Eu pude, delicadamente, fazer perguntas. De onde a gente se conhece mesmo, quem nos apresentou, você era a moça que alugava aquela casa na praia? Eu estava com medo de repetir a cena do filme francês – esquecer de alguém com quem eu tinha transado – mas não foi o caso. Melhor assim. Já me aconteceu de apagar esse tipo de evento íntimo e a sensação é muito ruim. A gente se sente ao mesmo tempo promíscuo e desmemoriado.

Como eu disse no início, todos nós somos intrinsecamente inesquecíveis. Únicos mesmo. E eu acredito nisso. Se alguém pudesse, como nos filmes, entrar na nossa mente, por um segundo que fosse, perceberia a corrente de sentimentos, memórias e sensações totalmente originais que forma cada um de nós. Mas não vivemos assim, não é? Passamos rapidamente pela vida dos outros, que passam pela nossa, sem verdadeiramente nos tocar. Somos muitos, não deixamos marcas e tampouco nos deixamos marcar. Nessas circunstâncias, a memória fraqueja. Cria embaraços, mas abre, também, novas oportunidades. “Desculpe, eu não me lembro de você”, não é necessariamente um insulto. Pode ser apenas um recomeço.

GOSTO DE ...

  • Caminhar com o intuito de esquecer
  • Cozinhar para satisfazer, eu e outros
  • Filmes por que me isolam da realidade
  • Fotografar pois me ajudam a lembrar da vida
  • Livros por que ensinam a valorizar o momento