SENTADO À MESA



Deixei de usar os sentimentos. Estou mais para instintos. Minha visão de prazer cambiou do cérebro para o estomago. Não escolho mais olhar para rostos bonitos e formas perfeitas. Preocupo-me em apresentações, disposições que valorizam e instiguem o paladar. Agora quero saciar a efemeridade da fome. Cansei de viver com sentimentos em relacionamentos baseados em interesses. “A FALSIDADE ANDA A SOLTA POR AI E NÃO TEMOS VACINA CONTRA O VIRÚS A-FILA-ANDA”.

Há uma maneira intrínseca de analisar e criar uma correlação entre a comida e os sentimentos amorosos. Quantas pessoas riem e se admiram da quantidade de comida que servem num “prato da nouvelle cousine francesa” e preferem um PF ou um enorme corte de carne gordurenta ou uma travessa de massa ‘ao sugo’ ou carbonara? A sutileza de um sentimento ou mesmo a maneira subliminar de como se vive não são garantia de respeito. Preferem que as demonstrações sejam enormes e de grandes proporções (ou seria porções?). Querem e acreditam que a quantidade (coisas materiais é que empanturram) é melhor que a qualidade (ainda ficam com fome com pouca coisa).

Lembro do que disse um mendigo à porta de casa, ao pedir um prato de comida: “senhor, para fazer merda qualquer coisa serve o que eu não quero é ficar com fome”. Para alguns o importante é ter alguém, estar com alguém, não importando o que aquilo é. Se a “comida” os fartar ou perder o gosto eles trocam para algo mais gorduroso e massudo. O que procuram é não deixar o prato vazio.

Depois disto tudo, há um paralelo entre os microorganismos existentes nas intoxicações alimentares e os desvios de conduta moral. Carnes contaminadas e alimentos infectados por bactérias e vírus causam intoxicações e debilitam o corpo e em alguns casos levam a morte. Atitudes suspeitas, vícios nocivos e hábitos imorais também infectam os sentimentos existentes num relacionamento. Parafraseando a drogada “sempre existe uma justificativa para o vício” ou uma conduta indigna, mas não deixa de ser uma infecção moral e de desrespeito, tanto para com ela como para o os outros. Ocorre que o saneamento de alimentos é fácil com aplicação de novas atitudes de higiene. O mesmo não se pode pensar em fazer quando se trata de questão moral, pois é inerente à personalidade da pessoa.

Uma vez falso, sempre desleal. Quem mente, acredita na mentira. Os que não querem ou precisa de ajuda são os primeiros a gritar o irremediável desamparo.

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