QUANDO IREMOS NOS ENCONTRAR DE NOVO?



Era o primeiro dia do ano Maia. Estava chovendo. Precisava existir um empecilho que tornasse o dia especialmente particular. Por que encontrar com alguém que nunca se viu é sempre uma aventura digna de registro.

- No Selfie!

Aliás, mais do que isto, ela já sabia quem ele era. Talvez por que ele gostava de compartilhar a sua vida em detalhes, quase chegando às raias da dependência emocional. 

Combinado o lugar e acertado o horário, agora ele tinha que esperar no lugar certo e não em outro, como tantos fazem, que ficam estrategicamente postados para ver antes dela o ver. Ele estaria na estaria na escadaria. Chegou antes para esperar. Tinha que esperar pela abertura de porta. Esperar por um andar, pelo som de um salto batendo no mármore. Esperar. Wait Wait Wait! Ela veio. 

-Desculpa o atraso. Demorei? 
- Não! Estava aqui te esperando. 

No abraço descobre que é um degrau de diferença e o encaixe é quase perfeito apesar do frio de 10 graus. Ele procura por entre as roupa uma maneira de descortinar as tatuagens e alguns nacos de corpo. Evita o decote que esconde um emaranhado de labirintos impossível de não se ver. Nota a boca convidativa, a voz rouca, o olhar que perscruta e mira a aura. 

Andaram por salas e corredores como se o passeio fosse um longo e interminável descobrir. Tanto ali como acolá. 

O café foi só um pretexto, um subterfúgio, por que ele não quer ir embora. Descobre que ela tem uma sugestão de lugar mais aprazível para quem está com fome. E como velhos conhecidos a conversa flui por entre assuntos e projetos. Ninguém percebeu que eles são dois desconhecidos e que se viram algumas horas atrás, pela primeira vez. 

Sem saber ao certo a dimensão do tempo e da hora, caminham por entre árvores sem antes se dar conta do esquecimento óbvio do guarda-chuva pois não mais chovia. A mesma chuva usada como desculpa para postergar o encontro. Podia parecer proposital o esquecimento, mas era uma maneira dele estar mais tempo junto dela.

Enquanto o carro não vem, a gente espera, diria ele olhando para os lados a procura de alguma coisa que a leve para casa. Não veio e teve que buscar ali na esquina um táxi.

Não havia outra maneira dele se despedir senão com um beijo. Um beijo doado, nunca roubado. Ela devolveria, pois não ficaria com beijos alheios. 

Para ele o dia passou como se tivesse passado um mês. Teve a certeza que amanhã aconteceria um reencontro. Só que não! A agenda dela é impassível e inflexível.

Perambulando ele se apercebe do alerta que isto tudo é muito recente e que tudo tende a ser inimaginável se fosse dia a dia. Primeiro, achou difícil pensar ou desejar que o encontro evoluísse para outros e que o primeiro não passava de uma simples "conversa com uma pessoa, numa festa onde não se conhece ninguém". Depois, acreditou ser possível uma nova idéia de poder dividir o tempo com ela. 

Ocorre que foi um encontro de águas, cada qual com o próprio leito sulcado e seus sedimentos atavícos. Se irão fluir e mesclar suas ondas e correntezas é algo que vai lhe tirar o sono até o próximo encontro com o mar. 

Por fim um bilhete deixado nas ondas virtuais do acaso dentro de um aplicativo vítreo a boiar por respostas físicas:

- Senti você vibrar! escreveu ela ao vento.

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