OS DOIS PRINCÍPIOS


Tudo começou com uma reticência entre parênteses, como uma omissão de algo que é impossível de aceitar. A falta que você faz. Eram tantas perguntas que comecei a enumerá-las, ou melhor, cifrá-las para tentar entender.

- Será que ainda estou a tempo de recuperar o tempo perdido? Terei perdido o amor, nesse meio tempo? Terei perdido o tempo, nesse amor temporizado? Será que ainda existe um amor que possa reaver o amor perdido?

São lembranças, quase virtuais, mas presentes. Personificadas em cada foto significada, em cada olhar admirativo, em cada abraço mútuo e em cada beijo almejado. A idéia assustadora que você não irá ligar, que não vamos nos ver, é nada fácil de aceitar. Achar que o estudo do caso que levou “ao erro” será a garantia de que no próximo relacionamento as “coisas serão diferentes”, é um aprazível engano. Tudo bem que outra pessoa pode vir a nos ensinar a nos valorizar em pontos que anteriormente nem sabíamos que tínhamos mérito, que as emoções de antes não serão como as de agora e em alguns casos serão reminiscências. Porém, não deixei de enxergar o seu o valor e não foi por minha predileção que deixei de expressar o que sentia. Talvez o meu expressar é que a tenha te afastado. Terá sido esse o motivo? Você disse que era “um problema da sua pessoa” mas foi sua pessoa que me atraiu.

Às vezes, exteriorizar aquilo que se sente é tão difícil quanto esconder, interiorizando como se tivesse defendendo de algo terrível e esse medo existe por estar sempre associado à aquela idéia de “perder a liberdade” como se o outro fosse um conquistador de castelos, um tirano medieval. Contudo, a catarse ainda esta engasgada é um bem que necessito.

Estamos pactuados a permanecer num istmo entre dois princípios dogmáticos que estão em contraponto. Toda a dúvida reside neste ponto geográfico: direito-esquerda, branco-preto, frente-atrás, alto-baixo, seguir-parar, fazer-esperar, falar-ouvir, enfim a síntese do yin-yang:

- O que perdura é não saber se foi por ter feito ou por que não fiz ou foi o que falei ou pelo meu silêncio. Será que foi por ter recusado um convite ou por não te convidar? Terá sido o fato de permanecer parado quando você queria que eu avançasse ou seria o contrário?

Perder o amor de quem se admira é uma mutilação da auto-estima. É amputar parte do conforto que esse relacionamento acarretava. Perde-se o senso de tempo e espaço. O tempo torna-se imensurável, ora distado ora faceado. O espaço circundante é imenso e não há nada para além do vácuo existente pela sua ausência. Essa falta de senso me coloca solitário de frente a um futuro que pensava não ser necessário recriar. Essa realidade, essa nova materialização é lenta e pesada. É como se andasse em circulo tendo uma enorme avenida pela frente. Não é dependência. Não é falta de iniciativa. É afinidade, parceria, companheirismo, cumplicidade e isto pode ser representado por fugazes minutos que eram nossos encontros, mas não deixava de haver uma troca.

Existe alguma formula que se possa usar para esquecer? Uma droga que cause amnésia parcial de um setor cerebral ou de um período de vida?

Mas, “nunca diga que esquecestes um amor, diga apenas que consegues falar nele sem chorar, pois o amor é e sempre será simplesmente inesquecível", assim falou um sábio sentado frente a um vale chinês. Contudo, sempre existirá alguém pronto a apresentar “uma técnica infalível de esquecimento de um grande amor”, mas sabemos que não funciona, nem funcionará, pois cada um tem o seu grau de entrega a um amor. Porém, ouço a boca pequena que devo procurar um novo amor. Todavia, pelo pouco que sei, amor não se procura, não é uma chuva que se toma e pronto, estou encharcado de amor. O amor é que nos acha, ele é que nos encontra. Não existe amor plantado. Minha paixão chegou de elevador e quando percebi estava estatelado aos seus pés e nada pude fazer senão render-me aos seus encantos e torná-la minha ama.



Um comentário:

  1. Haverá outra ama, assim como eu, na minha auto destrutiva experiencia passional, achei outro Lord, e sim , ela virá daonde e quando vc menos espera. E sim, dói esquecer, e sim, vc expressou muito bem o que é uma perda... eu mesmo agora sinto superar as minhas perdas, e sim saí mutilada tb. Vc é um grande escritor, pessoa especial e talvez sim, se deveria sempre expressar os sentimentos, o velho ditado de quem não chora não mama, não é por si nenhuma garantia, mas ainda funciona. super beijo, super Natal, sem vácuos, porque sua lindeza interior não permite isto, ela preenche tudo.

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