O AMOR E OS RELACIONAMENTOS: perspectiva budista


Ana Taboada
Caros amigos e amigas,

Numa sociedade em que os relacionamentos são feitos de promessas e juramentos pode parecer bastante difícil à primeira vista aceitar a perspectiva budista sobre o amor. Mas de facto se analisarmos a natureza de uma promessa ou juramento chegamos à conclusão que não passa de uma forma artificial e redutora de manter uma relação. Assim, tendo como base a promessa, o relacionamento é o oposto do amor. A promessa limita, cria fronteiras e, por isso, destrói a liberdade.

O amor, na perspectiva budista, é liberdade. Isto significa que a nossa promessa é unicamente não ter promessas… Dito de uma forma menos polémica seria: a nossa única promessa é manter espaço. Manter espaço numa relação significa dar a oportunidade da outra pessoa se expressar tal como é e não como nós queremos que ela seja… significa estar receptivo e aberto a todas as possibilidades.

A diferença é muito bela… torna o mundo mais colorido e pouco monótono. Por isso faz todo o sentido amar a diferença. Contudo, a diferença também é o nosso desafio. Sem amor essa diferença torna-se o nosso problema e a causa do nosso sofrimento. Mas com amor a diferença faz da vida um quadro muito bonito. Neste quadro tudo é diferente, mas ainda assim tudo existe em relação de interdependência. Tudo é inseparável. E o que faz ver tudo belo e perfeito são os olhos da sabedoria: o amor!

Portanto, no budismo em vez de relacionamentos, falamos em amor. É o amor que devemos praticar e não as promessas…

Tulku Lobsang explica muito bem a importância de mantermos espaço numa relação da seguinte forma: quando estamos demasiado próximos deixamos de ver a pessoa que está ao nosso lado; é necessário um certa distância para nos continuarmos a ver, para apreciarmos e valorizarmos.

O amor precisa de espaço para sobreviver. Por isso, o alimento do amor é a liberdade… assim, mais importante que a quantidade é a qualidade dos momentos!

Mas se existe apenas liberdade também é demasiado frio. É necessário dar-lhe amor para que possa aquecer.

Da união das duas nasce o amor perfeito… difícil de se obter, mas possível!

Esse amor puro está para além do medo e das expectativas. Não tem medo de perder, porque sabe que o amor não é algo que se tem… Não espera nada, porque sabe que quem ama automaticamente recebe…

Mas o nosso problema é que para nós amar alguém, significa “quero-te” e, por isso, sofremos do apego e do ciúme… ou que o nosso amor depende do amor da outra pessoa e por isso sofremos da rejeição… mas a magia do amor é que no momento que amamos tornarmo-nos livres! Amamos e nesse momento libertamo-nos dessa pessoa… isto significa que o quer que essa pessoa faça, está tudo bem para nós… porquê? Porque a amamos! Então amar profundamente alguém significa que existe pelo menos uma pessoa que não nos causa problemas neste mundo! Essa pessoa, com as suas virtudes e defeitos apresenta-se perfeita aos nossos olhos.

Por isso quem ama fica sempre a ganhar! Pois quem ama é quem se liberta…

E se o amor for muito profundo, essa pessoa está sempre no nosso coração. Não há distancia que nos separe.

E mesmo que essa pessoa não me ame, não sofro de rejeição, mas sinto compaixão… compaixão porque quem não me ama é quem fica a perder! Perde a magia do amor!

Mas amar desta forma tão incondicional é muito difícil. Até porque confundimos amor incondicional com paixão e paixão nada mais é que a obsessão por uma pessoa: vivemos em função daquela pessoa e perdemo-nos a nós mesmos. Perdemos o nosso espaço. Logo é demasiado quente e queima-nos. Esse fogo destruir-nos-á mais cedo ou mais tarde.

Encontrar o quentinho do amor incondicional e saber mantê-lo é tarefa de muitas vidas… mas não é impossível!

Requer desenvolver um amor que passa pelo profundo respeito e confiança.

Enquanto o amor fizer sofrer, definitivamente não é amor… se o amor causasse sofrimento não faria sentido praticá-lo. Já temos sofrimento suficiente neste oceano de samsara!

Conclusão: o amor aceita a mudança. Caso contrario estamos a lutar contra a lei da natureza. E a natureza de tudo é mudança. E o que faz essa mudança ser bela e perfeita é o amor. Unicamente o amor! Por isso, o amor não só aceita a mudança como faz ver bela a mudança!

Mas a nossa tendência inata é apegarmo-nos ao fixo e imutável. Queremos que as nossas relações durem toda a vida na forma como idealizámos. Não damos espaço para a mudança… a mãe não aceita que o filho cresça e conquiste a sua independência; o melhor amigo não tolera partilhar o seu lugar com outros amigos; a namorada não compreende a mudança de comportamento do namorado; o marido não aceita que a sua mulher mude de filosofia de vida… etc, etc….

Nós mudamos, a vida muda, logo é perfeitamente natural as relações também mudarem. Apenas há algo que não pode mudar: o amor! Esse deve permanecer indestrutível. E é o amor que nos faz adaptar à música que a vida nos apresenta. Dependendo da música devemos dançar de forma diferente… esta é a forma de expressarmos o nosso amor!

Por isso, viver ou não toda a vida com a mesma pessoa não é relevante na perspectiva budista. O mais importante é praticarmos o amor durante toda a nossa vida… com o amigo, a namorada, o marido, o conhecido e o desconhecido! Mas em especial com aqueles que nos colocam mais desafios. Com esse temos de praticar todos os dias!

O budismo ensina como praticar o amor. A prática do Poder do Amor é uma forma de gerarmos um amor cada vez mais incondicional e natural.


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