TRaIÇãO

Não adianta se cuidar e nem cuidar dos outros, é quase impossível evitar os efeitos colaterais que esse ato acarreta. Depois que a lama esfria, como é que se tira o resíduo que permanece na pele? Você fica impregnado com o cheiro característico da derrota porque nada justifica esse ato. Esse odor fedorento te isola e te obriga a se esconder do resto do mundo circundante. O cheiro não sai mesmo depois de litros de perfume. Não adianta tomar banho de sal grosso nem dar oferenda num despacho de encruzilhada em cesta negra, nem seguir os ditames de algum escritor de livrinhos de “você me paga que eu te ajudo”. Também não será solução procurar outro corpo suado pensando que isto vai fazer o cheiro sair. Há pessoas que, como diz uma amiga baiana, vão “tomando banho em qualquer água de cheiro que encontra pela frente” com o simples intuito de tirar esse maldito cheiro. Momentaneamente você até pode acreditar que obteve a troca que almejava e que tudo já são águas passadas, mas não é bem assim. O maldito cheiro sempre volta quando surge um desacordo.


Esse problema persiste para alguns, e claro que eu me incluo. Estou-me autodescrevendo por experiência própria. A dificuldade não está no fato de olhar para frente e não ver pelo retrovisor o que se passou. O maior empecilho é achar forças para começar de novo. Essa força, esse alento, esse entusiasmo, esse ânimo ou o sentimento que você precisar para se erguer, não vem com uma outra pessoa, com uma outra cidade ou ganhando um prêmio em dinheiro ou simplesmente dopando a auto-estima (que neste caso é nula). Ocorre que ela virá certamente. Talvez nunca saiba de onde ela virá e como ela se apresentará. Surge quando menos se espera. Quem sabe ela irá envolver-nos assim que o tempo restaurar a harmonia entre o que temos para fazer e o que está por se fazer: naquele preciso instante em que não pensamos em nada.


Receita? Duvido que alguém tenha uma que sirva para a generalidade dos casos. Cada um tenta a sua própria. Enquanto uns fazem algo, os outros fazem o oposto. Uns amam, outros odeiam e ambos acreditam que estão fazendo a coisa certa.


O certo é que aquilo que levou à traição é o mesmo que ainda subjuga no silêncio.

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